Rio -  No vaivém de um dos transportes coletivos mais utilizados no Rio, que transporta 550 mil pessoas por dia, o risco de contaminação por dengue pode ser maior do que muitos pensam. Só este ano, fiscalização da Vigilância Ambiental em Saúde na linha férrea identificou 612 focos de Aedes aegypti ao longo da malha da SuperVia, a maioria em montinhos de lixo com recipientes plásticos, garrafas e latas.

Ao longo da malha, no entorno da estação de Campo Grande, é possível avistar mato alto, água acumulada em valas e até mesmo um carro abandonado em terreno da SuperVia, a menos de um metro dos trilhos. Já nas proximidades da estação do Jacarezinho, detritos espalhados pelo chão são facilmente encontrados.
No entorno da estação de Campo Grande, há mato, valas e até carro abandonado em terreno da SuperVia, perto dos trilhos | Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia

Com suspeita de dengue, na fila de atendimento do Centro de Saúde Belizário Penna, em Campo Grande, onde mora, o balconista Tiago da Silva Cardoso, 25, disse acreditar ter sido contaminado numa de suas viagens a Madureira ou durante o expediente na lanchonete em que trabalha, perto da estação de Campo Grande.

Supervia culpa camelôs

“Sempre avisto lixo perto da estação, no entorno da Favela de Antares e no Jacarezinho. Posso ter pego trabalhando ou no trem, pois onde moro não tem muito mosquito”, disse. “É um absurdo focos em áreas comuns. Alguém deve fazer algo”.

A SuperVia esclareceu que os locais mais críticos nos 270km de malha são Campo Grande, Senador Camará e Padre Miguel. Segundo a concessionária, o motivo é a ação de camelôs, que jogam dejetos como caixotes de madeira, produtos estragados e outros materiais na via. No fim de abril foram retirados, em Padre Miguel, 35 m³ de entulho. Sobre o carro, a SuperVia vai enviar equipe ao local.


Campo Grande vive surto da doença

Mas a ameaça não é real apenas para passageiros. Em Campo Grande, a preocupação com a proliferação do mosquito nas margens da linha do trem é grande. Moradora de um prédio que fica na Rua João Batista Scalcon, a menos de 200 metros do trecho do trilho entre as ruas Campo Grande e Engenheiro Trindade, no Centro, a estudante Cynthia da Silva Martins, 23, adotou algumas medidas para evitar surpresas. “Aumentou o número de mosquitos dentro de casa, por isso recorremos às telas nas janelas e ao uso repelente”, explica. “Ficam vários trabalhadores na Rua Engenheiro Trindade. Isto é perigoso”, completa.

Segundo números da Secretaria Municipal de Saúde, a região de Campo Grande e adjacências tem incidência de 461,4 pessoas infectadas por 100 mil habitantes. Quando esta taxa é superior a 300, é caracterizado surto.

Há poucas semanas, Cynthia, que já teve dengue há mais de um ano, percebeu sintomas da doença, mas o exame não confirmou a virose. “Pedem para limparmos a casa, mas não limpam a cidade. Ficaria com muita raiva se soubesse que peguei a doença por causa do lixo na linha do trem”.

Prefeitura e SuperVia fazem prevenção

Sobre os focos encontrados nos trilhos, a Vigilância Ambiental informou que são realizados trabalhos periódicos em conjunto com a SuperVia e outros órgãos. Em caso de necessidade, também é utilizado o fumacê nos pontos detectados. Já a concessionária disse que realiza constantemente limpeza e desobstrução dos dispositivos de drenagem das canaletas ao longo da via e retira o lixo do trecho, diariamente cerca de 100 metros cúbicos. Trabalhos de conscientização junto às comunidades e ações educativas também são desenvolvidos.

A epidemia de dengue na cidade está perto do fim, como anunciou na semana passada a prefeitura, mas em pelo menos 17 bairros da Zona Oeste do Rio o surto da doença vai continuar, como O DIA mostrou quarta-feira. A área com maior incidência da doença é a que abrange Bangu, Realengo e adjacências. Em seguida, está a região de Campo Grande, Guarativa e adjacências.

O que cada um pode fazer para evitar a doença

LIXO E BANHEIRO
Ponha o lixo em sacos plásticos e mantenha as lixeiras bem fechadas. Não jogue detritos em terrenos baldios. Vasos sanitários devem ficar tampados. Dê descarga em banheiros sem uso.

CAIXAS D’ÁGUA
Devem ser bem vedadas. Se utilizar tanques, tonéis ou barris para armazenar água em sua casa, mantenha-os tampados.

VASOS DE PLANTAS
Retire os pratinhos debaixo dos vasos, para evitar acúmulo de água. Ou, então, encha-os de areia até a borda, para que a água seja absorvida.

CONDOMÍNIOS
Mantenha ralos desobstruídos. Analise canaletas para drenagem da água da chuva e fossos do elevador para evitar água parada.

TELHADO E LAJES
Não deixe água de chuva na laje. Retire folhas, galhos e tudo que possa impedir a água de correr.

ATENÇÃO AOS SINTOMAS
Dengue clássica: Dura entre 5 e 7 dias, com febre alta (39 a 40 graus), dores de cabeça, cansaço, dor muscular e nas articulações, indisposição, enjoos, vômitos, manchas vermelhas na pele, dor abdominal (principalmente em crianças), entre outros sintomas.

Dengue grave: Parece a clássica, mas após o 3º ou 4º dia surgem hemorragias (nasais, gengivais, urinárias, gastrointestinais ou uterinas). A febre pode passar.